quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O céu peculiar de hoje

O tempo me escapou dos olhos num fenômeno raro. Penso tê-lo citado uma vez a ti, numa tarde em que as nuvens caíram baixas e oblíquas, o céu entoou um vermelho sobre a minha cidade, e choveu forte. Era-me certo que as faixas vermelhas nas bordas do horizonte eram cidades iguais a minha, onde as coisas espelharam o mesmo tom, como a água e os pequenos troncos de um aquário sob o néon. Era-me certo que nesse dia as mesmas bordas estavam todas esbranquiçadas; caía-me a poeticidade de que delas alguém apontava sabendo que a cor e o sol dormiriam hoje no canto de cá.

Atribuo-me, também, noutra citação. Afirmei-te que, por mais colérico que estejas, o céu tem a capacidade de incitar os sorrisos em seu espetáculo. Hoje, porém, me provei errado. Sequer o notei, ao ponto de que as nuvens já se dissipavam e já crescia a escuridão da noite, e o culpado foi o próprio tempo que escapou dos olhos. Ele me roubou o sorriso do céu, mas falhou miseravelmente em tomar o sorriso que me traz a sua voz, que veio quando eu disse, por um motivo qualquer, uma palavra com a entonação que você a deu. Pudesse, ecoava a mesma palavra no céu vermelho até que ela perdesse seu sentido. Essa palavra é “Muito”. E me acendeu a necessidade e a existência de mesclar não a palavra ao céu, mas você à palavra.

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