segunda-feira, 11 de julho de 2011
Arquitetura
A criação não se espera na arte. O bom escritor, como o arquiteto raro, não se nutre da admiração dos leigos. A obrigação é de erguer, no domínio dos sentidos ou nos quartos da memória, a elegância de um mundo novo. Assim se faz falha a casa bela, com as saudades de costume e os lamentos de um só mestre e tempo, e assim falham os poemas de amor com os usuais arranjos e as mesmas abóbodas. É necessária a casa peculiar, mesclando cores que se destoam, para o dono igualmente singular. Há também a ambição dos que escrevem ou erguem: a casa tida. Não segue fôrmas e, quando a vê, sente uma nostalgia modesta de já a ter possuído. A casa tida é um truque de difícil governo para os arquitetos, afinal se encomenda a arte pelo gosto. O escritor tem a dádiva de fazê-la pelo próprio, encontrando os leitores para as palavras. Aos de Drummond bastou uma pedra. Aos meus, duas cidades e uma poetisa.
às
13:01
!
Anônimo
terça-feira, 5 de julho de 2011
Requiém do Sol
Luzi pontualmente, por todos os anos e olhos, e aqueci. O meu ímpeto egoísta, de negar a luz, passou à ideia de raiá-la toda a ti, desde a primavera em que choveu-te e me cuidou tão tenra. A distância desfez-se domada. Chuvas finas e calorosas vieram solar a terra. Logo entornamos o céu de um espetáculo além, e as pessoas que mirassem-no, sabendo onde fitar, nos encontrariam juntos; um curto arco-íris nas bordas de uma montanha ou na face espelhada dos prédios. Mas fez-se o outono, e os olhos penderam à terra.
Meu brilho agora cresce cessante, como se adormecente. Obrigam-me ao claustro de algumas janelas, de onde fito à exaustão, procurando-te em cantos distantes, nos finos fios que parecem atar as nuvens ao chão e que te precedem. Obrigam-me a chama fraca, que toda lhe direciono, mas que não basta, e que não chama. Entrego-me ao ofício de te esboçar. Quase te vejo. À noite, quando vem tocar o meu teto e, submerso em uma orla reclusa, ergo os raios como os braços ao seu encontro. Outrora, entre as árvores de um campo, vejo tecer seus fios...
Meu brilho agora cresce cessante, como se adormecente. Obrigam-me ao claustro de algumas janelas, de onde fito à exaustão, procurando-te em cantos distantes, nos finos fios que parecem atar as nuvens ao chão e que te precedem. Obrigam-me a chama fraca, que toda lhe direciono, mas que não basta, e que não chama. Entrego-me ao ofício de te esboçar. Quase te vejo. À noite, quando vem tocar o meu teto e, submerso em uma orla reclusa, ergo os raios como os braços ao seu encontro. Outrora, entre as árvores de um campo, vejo tecer seus fios...
às
12:11
!
Anônimo
Assinar:
Postagens (Atom)