segunda-feira, 11 de julho de 2011

Arquitetura

A criação não se espera na arte. O bom escritor, como o arquiteto raro, não se nutre da admiração dos leigos. A obrigação é de erguer, no domínio dos sentidos ou nos quartos da memória, a elegância de um mundo novo. Assim se faz falha a casa bela, com as saudades de costume e os lamentos de um só mestre e tempo, e assim falham os poemas de amor com os usuais arranjos e as mesmas abóbodas. É necessária a casa peculiar, mesclando cores que se destoam, para o dono igualmente singular. Há também a ambição dos que escrevem ou erguem: a casa tida. Não segue fôrmas e, quando a vê, sente uma nostalgia modesta de já a ter possuído. A casa tida é um truque de difícil governo para os arquitetos, afinal se encomenda a arte pelo gosto. O escritor tem a dádiva de fazê-la pelo próprio, encontrando os leitores para as palavras. Aos de Drummond bastou uma pedra. Aos meus, duas cidades e uma poetisa.

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