segunda-feira, 11 de abril de 2011

Indagação

Por um segundo, atei-me ao chão. Quiseram voltar a casa, os braços e os olhos, e lancei-os por detrás dos ombros, atirando-os na janela para soprar as cortinas. Bem sabe, porque vistes. As mãos queriam o metal frio da maçaneta, o ouvido o ranger das dobradiças na porta, e não fosse mais forte que me imaginava, estaria lá a conjugar os termos para a estadia. Mas pendi os passos e fui.
Se não verteu no jardim, não o faria agora. Desafiei-me a não pensar na indagação, sentei a esperar o ônibus e por alguns momentos fitei a lua crescente, em sua cor de ferrugem – até que enfraqueci. Por que fazer da noite um arco que separa, varrendo os dois sóis da menina? Arrastando, em um estado letárgico, onírico? Por não estar ali, por não ter casa que não é teus olhos.
Recompus-me. Mirei a gente de uma casa verde, e como se entrelaçavam na cozinha enquanto um deles preparava café. Tinham de ficar acordados. A janela projetava a angústia, o alvoroço, e me teve até trair-me um canto do olho, com o ônibus que me chamaria de volta. E se voltasse? Se me mantivesse firme como uma torre de mármore, trouxesse no semblante o convite das horas, não haveria recusa.
São, desisto dos devaneios. Fixo sobre o mostrador do relógio digital, e no virar dos números vermelhos a fim de apressá-los. Embarcar – devo embarcar. É o último ônibus, e se embarcar, ainda que descanse a cabeça no vidro a pensar, como quem fita além do monte e quer rasgar o céu, a intenção não me trará aqui.
Devo embarcar – se chover, não há o que faça. Os trovões me inquietarão e o estalar da água no meu telhado de ferro calarão a própria voz, e o corpo irá. Caminhará cada vez mais rápido através das ruas, das gotas e faróis de carros. Devo embarcar, mas o ônibus não vem.
Temo que nunca virá.