sexta-feira, 25 de março de 2011

Periélio

Nascerá de nós um dia sem relógios. Darei à manhã um índigo sem nuvens,
e darei flores as bromélias, e tons peculiares às janelas, sabendo o meu egoísmo – nesse dia, me extinguirei. Encontrar-te-ei no fim da tarde, e não haverá poente, para não haver traço algum de nossa fuga; iluminarei apenas os palmos a frente, e tua tempestade há de cobrir os passos detrás. Vamos ao oriente e ao norte. E na porção mais fria da jornada hei de estender os raios uma última vez, e pousarei em ti mais quente e vivo do que já me viu, fazendo nosso lar.

Fitará em todos os cantos, mas não vai encontrar-nos, e nascerá de nós um dia sem relógios – na ira do regente há de se adiar para todos. Nesses minutos incontáveis, viveremos do outro, insaciáveis do outro, num jardim de orquídeas; ouvirei suas histórias, compartilhando o calor que me resta... e apagarei. Enfim, outro astro assumirá o trono, e haverá manhã. Dirão os mais ditosos se tratar dos deuses, e não revelaremos a verdade. Por fim, se passará para as estrelas que nascem a história de nossa fuga, alertando sobre o amor, mas de forma tão surreal que as fará sonhar.

E nós, perguntas? Nós não diremos ao outro sobre esse dia, para não falhar nas palavras. Verás uma brisa fria chamar um sorriso meu, e terás toda a certeza; encostarás no meu ombro a fim de esconder sua reação, e se verter uma lágrima, a enxugarei com o rosto, mas não questionarei sua origem. Assim farás também comigo, até que a próxima estrela desça cá conosco...

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